primeiro fruto do casamento de William de Gales com Kate Middleton é o renascimento da monarquia britânica. Ao materializar o conto de fadas da união entre o príncipe e a plebeia, a mais tradicional casa real do planeta encerra duas décadas de crise. Ela foi efetivamente assumida como tal no discurso que nasceu clássico, quando a rainha definiu 1992 como “Annus Horribilis”.
Elizabeth II deveria festejar o 40º aniversário de reinado, mas sua casa desmoronou. O Castelo de Windsor pegou fogo, sofrendo graves avarias. Na família, os dois filhos casados anunciaram a separação. A filha oficializou o divórcio. E o caçula era criticado por continuar solteiro. As aventuras extraconjugais do príncipe Charles e da princesa Diana foram expostas em livro, entrevistas e grampos telefônicos, gerando incertezas legais e políticas sobre a sucessão ao trono.
Portanto, nada como uma cerimônia grandiosa para a monarquia reafirmar a simbologia. Casamentos principescos por vezes alimentam esperanças de mudança no reino, mas essa é uma interpretação frequentemente equivocada. William não precisaria alterar seu estado civil para reivindicar um direito que ganhou no dia 21 de junho de 1982, quando nasceu. Na monarquia, a cerimônia de mudança começa no funeral do antecessor e termina na entronização. E William é o segundo na linha sucessória desde o nascimento.
O que o casamento traz como simbologia não é a mudança, mas o seu contrário. Ele é a imposição e o reconhecimento da suntuosidade, da pompa, da tradição e da reverência à realeza. Os convidados são obrigados a se curvar aos futuros reis e rainhas, que se mostram quase intocáveis – o protocolo proíbe abraços, beijos e qualquer outra manifestação de intimidade com os noivos.
A cerimônia de William e Kate representa ainda a oportunidade para a monarquia aprofundar com seus admiradores uma aliança que atualmente, para se justificar, depende mais do emocional que do racional. De um lado está a família real com seus castelos, bosques, fazendas, viagens, recepções e criados, e que, até o “Annus Horribilis” de 1992, nem imposto pagava. Do outro fica o contribuinte britânico que banca uma conta mensal de R$ 10 milhões para sustentar a mais cara monarquia da Europa.
Ao longo da década em que perdeu em popularidade para a princesa Diana, Elizabeth II soube capitalizar os infortúnios da Casa de Windsor. Os barões conservadores da mídia, justamente os que na pessoa física mais apóiam a monarquia, popularizaram os escândalos. E, como alquimistas da opinião pública, converteram indignação em espetáculo. Duas décadas depois do “Annus Horribilis”, Elizabeth II encontrou no casamento do neto, o atalho para retomar o trilho original e, finalmente, festejar com a solenidade que a cerimônia exige seu 60º ano de reinado.
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